sábado, 21 de novembro de 2009

Palácio de Areia

As horas do dia insistem em se arrastar o mais lento possivel,
o calor da tarde teima em ir contra o céu nublado.

Eu novamente, sentada a beira do muro, um e outro cigarro se desfazendo em cinzas entre meus dedos, ali ao lado, na casa rosa como a própria casa da Barbie, ouço as risadas das crianças acompanhadas pelos "tibuns" na piscina, consigo até sentir o cheiro do cloro pairando pelo ar.. vida boa, vida de criança.

Percorri por entre as lembranças tentando encontrar meus momentos de felicidade simples, tentando entender quando eu passei de criança feliz a garota infeliz com um cigarro por entre os lábios trêmulos.

Busquei o momento na adolescência, aquele momento que marcou o inicio dos problemas, que abriu a porta da solidão, da incerteza dos meus passos, e a cada ponto que parecia crucial, me levava a um anterior, até que eu percebi..
eu nunca fui uma criança de gargalhadas, não tenho lembranças de subir na arvore do visinho pra roubar manga, nunca tive amigos na rua pra brincar de "amarelinha".

Mas me lembro de fugir de casa, de brigar com as crianças da rua de baixo, de cativar inimizades, sempre com meu olhar de desprezo, me lembro de maltratar animais, me lembro de passar muito tempo só, sem sorrisos.

Fui uma criança em crise, os ensinamento dos meus pais nunca fizeram sentido, minhas unhas eram pretas desde os 10 anos, nunca fiquei mais de um ano na mesma escola, crianças simplesmente me cansavam, todos me cansavam, entrava e saia de uma e outra escola sem nunca fazer amigos.

Não me tornei quem sou, eu nasci assim, agora a certeza de que as pessoas não mudam é ainda mais forte dentro de mim, e sei agora que os esforços pra ser alguém melhor são completamente inúteis.

Serei sempre uma garota que duvida de qualquer regra, alheia ao que se diz de "certo e errado", continuarei duvidando da vida, até que possa eu mesma achar uma explicação que me faça sentido, e preguiçosa e desinteressada como sou, vou continuar aqui sentada, transformando mais um cigarro em fumaça, duvidando de tudo, de todos.

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