Peguei as chaves do carro, avisei que ia sair..
"uma volta, só pra espairecer, já já eu volto mãezinha"
Vidros baixados, musica do Engenheiros, fui dirigindo sem ter exatamente pra onde ir.
Peguei a avenida e fui tocando pro centro, dirigindo despreocupadamente, quase despreocupadamente demais, quando passo em frente do meu antigo colégio (um dos muitos onde estudei).
Subitamente me veio à lembrança meu pai, e as longas viagens que fazíamos juntos naquela belina velha de casa até o colégio, não que o caminho fosse longo, mas ele parecia fazer questão de não passar dos 40, fato que me irritava profundamente, porque além de ir devagar ele ia repetindo a mesma ladainha de todas as manhãs, sobre estudos, responsabilidade, futuro, blá blá blá.. coisas que eu realmente não fazia questão de escutar.
Mas o fato que marcou, foi quando num desses dias, quando minha rebeldia pré adolescente tava mais aflorada, eu me recusei a dar-lhe um beijo de despedida ao descer..
Ele desobstruiu a rua, encostou no estacionamento e me disse algo que até aquele meu momento "Déjà Vu" eu havia me esquecido: "Minha filha, quando eu tinha sua idade nunca dei ouvidos ao que meu pai dizia, o achava um tolo.. "tolice, tolice" repetia para mim mesmo enquanto ele falava. Só após a morte do meu pai, quase 50 anos depois eu entendi e reconheci o valor das coisas que ele me dizia, e é realmente triste ver que minha filha fará o mesmo. Boa aula."
Desci do carro realmente aborrecida, "ah, meu pai vem com cada coisa, acha que essa história de morte me comove".
É, não me comoveu, continuei a mesma chata de sempre, o mesmo humor espinhento, a mesma metidinha que se afastava dos beijos e abraços do velho pai.
Ironico que aproximadamente uns 5 anos depois eu estava ali, sentindo falta daquela lenta jornada até o colégio, da barba e dos beijos de despedida. Não que agora tudo o que ele me disse faça sentido, ou que tenham algum valor como uma grande lição de vida, o valor maior é do momento perdido, da voz severa e macia que nunca voltei a ouvir, se não em meus sonhos.
Mas pelo menos acho que ele ainda pode se sentir orgulhoso, levei bem menos tempo do que ele levou com seu pai pra perceber a importância das palavras, nem tanto pelo conteúdo, mas pelo valor inestimável da companhia.
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